sábado, 7 de fevereiro de 2009

Desabafo de um Enfermeiro

Não é da minha autoria, mas podia ser...

Parabéns ao Colega! Aqui fica a minha Homenagem

Desabafo de um Enfermeiro:

'(..)Como Enfermeiro, estive hoje de greve assegurando cuidados mínimos. Revejo-me integralmente nas reivindicações da classe.Mas pergunto-me como as outras pessoas vêm a nossa classe, a nossa profissão, a nossa posição na não seremos o parente pobre de um sistema de saúde que só tem olhos para outros interesses… Sou licenciado. Ganho como bacharel ou nem isso. Deveria fazer 140h por mês e trabalho 160 ou mais. Não recebo nada por essas horas a mais, acumulando horas. Tenho colegas com quase 200h positivas, ou seja, 200 horas que prestaram serviço de qualidade e que não viram compensado o esforço, e porque não dizê-lo, dedicação à causa pública, fazendo os possíveis todos os dias para não faltar nada em termos de cuidados de enfermagem. Essas 200 horas deveriam ser pagas como extraordinárias, ou melhor ainda, deveriam ser realizadas por um dos 5mil enfermeiros que actualmente não tem emprego. No meu serviço devem-se mais de 2000h. No meu hospital há uns dezenas de serviços e a média é nalguns casos superior. Devem-se no
país, talvez um milhão de horas de cuidados. O que daria trabalho a mais 7000 Enfermeiros. E já nem estou a falar no aumento do numero de enfermeiros por cada turno, senão o número teria de ser ainda maior. No meu serviço, para 32 doentes, podem estar apenas 2 enfermeiros de serviço. E ao contrário do que por vezes pensamos (os enfermeiros pensam) só temos 2 mãos, 2 olhos, 2 pernas e 1 cabeça. E não somos omnipresentes.
Sou contratado
hà mais de 4 anos, trabalhando um pouco à margem da lei com contratos de 6 meses 'miraculosamente' renovados. Mas será que algum dia deixarão de precisar realmente dos enfermeiros para termos um contrato tipo 'hipermercado' ou pior? Depois, nestes 4 anos vi o meu ordenado ser aumentado
pouco mais de 40€, ou seja 10€ ano. Não subi nenhum escalão, grau, etc, porque simplesmente não há carreira de enfermagem definida, e como contratado a coisa complica-se. Qual é o meu estímulo todos os dias? Apesar de ainda adorar o que faço, trabalho porque preciso do €€€€. É frustrante pensar que todos os anos ao contrário do que deveria ser, ganharei menos. Deveria ganhar como licenciado e ganhar horas
extras se me fossem exigidas.

Eu que ganho 6,5€ à hora
, bem menos que alguns funcionárias da limpeza (sem desprimor para o seu trabalho), não me pagam horas extra. Mas pagar 2500€ por 24h de um médico, já é moralmente e legalmente aceite.Deixemos de ser hipócritas. Sou mal pago. Sinto todos os dias na pele, o peso e o risco desta profissão, que não é dar injecções e medir tensões. Está redondamente enganado quem dessa forma pensa. Somos um elo central nas relações clínicas, um peça chave. Quem esteve internado e já precisou de nós saberá a tudo o que me refiro.


Formação adicional
é sempre condicionada pelos serviços e instituições, num país que quer ter miúdos com computadores por todo o lado, num país em que se não formos doutores não somos ninguém, mas apelar a uma formação contínua, tendencialmente gratuita, é só para outras classes. A qualidade afinal é para outros verem. O doente que se trame.

  • Se tenho um curso de suporte básico de vida, devo-o a mim. 200€ e tem de ser renovado em 2-3 anos.
  • Se tenho um curso de suporte avançado de vida, devo-o a mim. 400€ e renovado em 2-3anos.
Se quero ser especialista, terei de ter pelo menos mais 6000€ de propinas para pagar. E depois, esperar que me aceitem numa instituição, que abram concursos, que se desbloqueiem verbas, etc. Um médico depois de médico torna-se especialista praticamente sem ir à escola em 6 anos. A prática é quase tudo. Nós seremos muito diferentes?

Se quero tirar uma pós.graduação ou mestrado, arrisco-me a queimar as pestanas e tirar tempo à família, não esquecendo mais 3000€ ou 6000€ de propinas. Em troca recebo mais 0€ ao fim do mês. É isto um estímulo ao desenvolvimento? É assim que a profissão está. É assim que nos sentimos.
E vós que opinião têm dos Enfermeiros?'

6 comentários:

Anónimo disse...

enquanto nao abrirem mais vagas para medicina, os médicos continuarão a ganhar balúrdios, por isso não interessa à ordem dos médicos que se abram mais vagas

Unknown disse...

Já conhecia o testemunho, está 5 estrelas. Reflecte na íntegra todos os problemas da nossa classe. Que, infelizmente, têm tudo para se manterem ou proliferarem.
Vamos mudar de vida, JP?:)
Abraço

Anónimo disse...

Sei quanto se deve sentir frustrado pela situação, mas estando empregado é um mal menor.

A minha filha também é enfermeira.Esteve mais de 1 ano sem emprego. Neste momento trabalha num hospital privado a ganhar um pouco mais que você, mas a recibo verde.

Este mês está a fazer mais de 60 horas por semana, mas para o próximo mês pode até nem fazer parte do horário mensal e apenas ser chamada para falhas de outras colegas que vem do serviço público

Muito complicado, mesmo

Boa sorte e votos de melhores dias para todos

JP disse...

Olá a todos e obrigado pelos comentários!

Tiago, eu até mudava mas para quê e para onde? Queria tirar Medicina mas até o curso no Algarve os médicos já ameaçam que podem não reconhecê-lo!

TRSM, está complicado para todos para quem está dentro e também para quem está fora. O problema é o conluio que existe entre Ordem e Escolas de Enfermagem que permite uma "fabricação" de Enfermeiros em massa e já se sabe que quando a oferta é muita o preço tem de descer. Os médicos neste caso têm sido exemplares e bastaria ter meio palmo de testa e tê-los seguido. Agora estamos num beco sem saída e toda a gente anda amedrontada com as possíveis consequência.

Outra coisa, deixa lá o Você!! Fonix, pá! :D

Abraço
JP

Unknown disse...

Sou enfermeiro...

Contratado à quase 5 anos.

Sinto exactamente o mesmo que o autor desse testemunho.

Ao ler o texto, parecia que me estava a ouvir, ainda ontem, numa conversa com um amigo na companhia de um café.

Não há motivação, não há progressão. Não vale a pena investir, pois não saímos de onde estamos.

É triste ver que em portugal só interessa ser "doutor" (sem querer ofender os médicos obviamente), e tudo o resto é para fazer papel.

Anónimo disse...

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